Infelizmente, o catarinense Ricardo dos Santos, 24 anos, não resistiu aos ferimentos dos três tiros que levou do policial militar Luiz Paulo Mota Brentano, 25 anos, do 8º Batalhão de Joinville, que estava de folga e assassinou o surfista em frente a casa dele na Guarda do Embaú, em Palhoça, na manhã da última segunda-feira. Ricardinho foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado de helicóptero para o Hospital Regional de São José, mas perdeu muito sangue e não suportou a parada cardíaca sofrida durante a quarta cirurgia a que foi submetido na manhã desta terça-feira, 20 de janeiro de 2015, para tentar interromper a hemorragia interna causada pelas perfurações entre o tórax e abdômen.
O assassino foi preso em flagrante e depois de ouvido na Delegacia da Palhoça acabou transferido para o Batalhão da Polícia Militar de Florianópolis, onde está detido. O delito aconteceu por volta das 8h30 da manhã da segunda-feira, após uma discussão que já parecia encerrada para o meliante tirar o seu carro da frente da casa de Ricardinho, para que ele, o seu avô, Nicolau dos Santos, e o seu tio, Mauro da Silva, pudessem realizar uma obra de encanamento desde a rua. Segundo informações do seu tio, Ricardinho viu o policial fazer uso de droga (cocaína) e pedido para ele não fazer isso ali naquela hora da manhã, em frente a casa de famílias, além de precisar fazer a obra no cano que o carro estava impedindo.
“Ele (Ricardo dos Santos) pediu mesmo para eles fazerem isso em outro lugar e eles logo disseram que já iam vazar. Então a gente subiu até a caixa d´água pra pegar as ferramentas pra fazer a obra, aí quando o Ricardo passou na frente do carro o cara simplesmente atirou sem falar mais nada. Ele tava tão doido que atirou até no próprio retrovisor do carro”, contou Mauro da Silva, que também comentou sobre o início da discussão. “Ele meio que falou uma gracinha pro Seu Nicolau (avô do Ricardinho). Eu não vi o que foi, mas ele falou uma palavra e ficou meio que rindo, aí o Ricardo perguntou o que estava havendo, o que que foi, aí o cara disse para deixar eles curtirem a onda deles. Na verdade, foi pouca conversa, não teve muita discussão não, aí na hora que o Ricardo passou, já estava de costas, uma distância de uns 4 metros, deu pra ver o cara sacar a arma e ele atirou assim sem discutir sem nada”.
“Eu cheguei a pegar o Ricardinho nos braços e ele falou para eu correr atrás dos caras, fazer alguma coisa, anotar a placa, então saí correndo atrás deles e consegui gravar o número da placa”, continuou o tio de Ricardinho. “Eles estavam bem alterados, o motorista (autor dos disparos) não conseguia nem falar direito. Na real, na hora que eu olhei pra ele, senti que ele era um policial, porque eles têm uma fisionomia diferente mesmo e quando ele sacou a arma me deu mais certeza ainda, mas na hora a gente não sabia, foi tudo muito rápido. O Ricardo que chegou mais perto dele no carro, viu que ele tava cheirando (cocaína), aí disse pra ele que ali não era lugar pra isso, que eram 8 horas da manhã, em frente a casa de famílias, aí ele disse que ia vazar. Até viramos as costas pra voltar pra casa e nem acreditei quando ele sacou a arma e atirou. Não teve briga ou discussão pra chegar naquele motivo de sacar a arma e atirar, foi totalmente sem sentido”.
Um policial do Corpo de Bombeiros da Guarda do Embaú foi o primeiro a socorrer Ricardinho e chamar o helicóptero que o levou até o Hospital Regional de São José, cidade localizada entre a Palhoça e Florianópolis. Na segunda-feira mesmo, ele foi submetido a três cirurgias para a retirada das balas e conter as várias hemorragias internas que duraram cerca de 7 horas. Depois foi encaminhado para a UTI, onde passou a noite e voltou para a sala de cirurgia na manhã da terça-feira para os médicos tentarem mais uma vez interromper as hemorragias causadas pelas perfurações. Ele perdeu muito sangue e não resistiu, sofrendo uma parada cardíaca fatal durante esta quarta cirurgia.
A mãe e a namorada do surfista foram chamadas para dentro do hospital e depois de alguns minutos voltaram chorando muito para a frente da emergência, onde desde segunda-feira amigos e familiares faziam uma corrente para o restabelecimento de Ricardo dos Santos. “É mentira, é mentira. Eu quero o meu filho de volta. Traz ele de volta, traz, por favor”, gritava a mãe Luciene dos Santos, que chegou a cair no chão e precisou ser socorrida pelos familiares.
Ninguém conseguia acreditar que Ricardinho havia realmente falecido e vários surfistas e fãs do esporte postaram mensagens de apoio nas redes sociais, como o atual campeão mundial Gabriel Medina, que lamentou: “Ricardinho, você não merecia isso! Não mesmo, nunca! Porque isso acontece com gente do bem? Não entendo isso! Mlk gente boa, sempre ajudando o próximo, sorriso de orelha a orelha todos os dias, exemplo de pessoa. Família dos Santos, que Deus conforte sua família”.
Ricardo dos Santos nasceu em 23 de maio de 1990 e sempre morou na paradisíaca e antes pacata Guarda do Embaú, onde começou a surfar com 7 anos de idade. Logo começou a participar das competições, disputando os circuitos amadores de Santa Catarina e muito jovem ainda escolheu se profissionalizar, mas logo preferiu surfar ondas maiores e mais perfeitas do que as encontradas na maioria dos campeonatos. Ganhou fama internacional nos grandes tubos do Havaí e do Taiti, onde se tornou o primeiro surfista da história a vencer as triagens para a etapa do WCT da Polinésia Francesa na temida bancada de Teahupoo por dois anos consecutivos, em 2011 e 2012. No Billabong Pro Tahiti chegou a eliminar até o maior fenômeno do esporte em todos os tempos, Kelly Slater.
Por: João Carvalho/ASP South America