Extremamente gratificante. Que início de semana fenomenal!
Nós, brasileiros, nunca vimos nada parecido. E nem os gringos! São apenas quatro etapas de Gabriel Medina entre os melhores do mundo no World Tour, e duas vitórias, ou seja, 50% de aproveitamento em sua primeira meia temporada no tour – Lacanau, França e San Francisco, EUA. E o cara tem apenas 17 anos!
Foram vitórias maiúsculas, despachando nas duas quartas-de-final o 11 vezes campeão mundial Kelly Slater. Nas duas semis, quem embarcou na Kombi do Medina foi o experiente Taylor Knox. Além de bater, sem pena, os aussies Julian Wilson e Joel Parkinson nas derradeiras finalíssimas.
Medina não toma conhecimento de ninguém. Arrisca sem medo de errar, surfando sem sentir a pressão em momento algum. Espanta à todos que assistem, incrédulos, às suas performances esmagadoras dentro d’água.
E hoje não foi diferente. Aliás, o que diferenciou a vitória do garoto fenômeno em Ocean Beach da anterior, em Lacanau, foi a diversidade do seu repertório. Encantador.
O Rip Curl Pro Search foi marcado, inicialmente, pelo décimo primeiro título do maior surfista de todos os tempos, o floridiano Kelly Slater. Na verdade, após as trapalhadas da ASP, a bateria do round 4 entre Medina, Pupo e Slater, a entrega definitiva do título de 2011 marcou de certa forma um novo início para o evento. Então, vamos em frente…
Gabriel veio a encarar seu irreverente companheiro de equipe, Matt Wilkinson. Passou por Wilko com uma vantagem pequena, 13.93 contra 13.70, mas sem susto. E o destino colocou novamente o badalado Robert Kelly Slater em seu caminho.
Não vou me estender muito no que Medina fez com Kelly desta vez. Só para resumir, ao final da bateria KS11 saiu da água com aquele seu ar indiferente, que o acompanha sempre após tomar um sarrafo de um brasileiro, dizendo:
“Essas condições estão perfeitas pro estilo de surf do Medina. Vamos ver como ele se sai em lugares como Pipe e Teahupoo”.
Desdenhando ou não, Slater amargou mais uma escovada para o garoto brazuca com menos da metade de sua idade. E neste caso, contra fatos não existem argumentos.
A bateria seguinte, contra o também norte-americano Taylor Knox, pela semifinal, foi outro revival de Lacanau. Mais uma vez, Medina embarcou gentilmente seu experiente oponente quarentão em uma Kombi de alta quilometragem. Só para ilustrar a enorme diferença, ao final do confronto, Medina já saía d’água quando Knox pegou um belo tubo para direita que passou quase desapercebido pela maioria, pois mesmo desembarcando da lotação, ele não teria direito a devolução de sua passagem de ida para casa. Eu, particularmente, estou até agora sem saber quanto valeu aquela onda.
Pois então, é chegada a hora de mais uma grande final, e desta vez, por muito pouco ela não veio em verde e amarelo. Infelizmente, Alejo Muniz mesmo tendo destruído, acabou derrotado pelo tri-vice mundial Joel Parkinson na semi. Uma final totalmente verde e amarela seria demais para qualquer um que não fosse brasileiro. Eles não deixariam, todos nós sabemos disso.
Você lembra da declaração de Kelly Slater sobre os aéreos de Medina? Pois é, logo em suas duas primeiras ondas surfadas na finalíssima, o garoto tratou de apresentar ao mundo mais uma de suas mil e uma qualidades, o power surf. Foram duas direitas seguidas, nas quais proferiu diversas porradas avassaladoras de backside para sacramentar a brincadeira com notas 7,50 e 9. Ponto final. Com apenas alguns minutos de bateria, Medina havia despachado o temido – não por ele – e candidato ao título no início da temporada, Joel Parkinson, em São Francisco.
Para Parko, só restou a reverência ao seu mais jovem algoz.
“Ele é um dos mais talentosos surfistas que eu já vi na minha vida. Tem um grande futuro pela frente e vai ser muito empolgante vê-lo surfando nos próximos anos”.
Pelo Twitter, o sempre humilde e tranquilo Medina fez questão de agradecer ainda emocionado e provavelmente correndo para comemorar com os amigos (a julgar pela maneira que escreveu o post) a todos que torceram por ele.
Qualquer adjetivo em relação a Gabriel Medina já tornou-se redundante.
Dizer que ele está fazendo história, também não vale mais. Que será campeão mundial em 2012, até o Kelly Slater já está careca de saber.
Agora, eu quero ver é quem vai ter a ousadia de apontar os defeitos desse moleque sagaz. O pior deles nós já sabemos: Gabriel Medina não respeita os mais velhos e renomados surfistas do planeta. Sem tomar conhecimento de quem enfrenta, os manda pra casa de Kombi, sem direito a reclamação. Que moleque danado!
Brincadeiras à parte, só me resta uma coisa a fazer após mais um dia de felicidade que esse garoto proporcionou a todos nós, brasileiros ou não, surfistas ou apenas simpatizantes do esporte: Muito obrigado, Gabriel Medina.