Com a abertura da janela de espera da 8ª etapa do World Tour 2011, na França, gostaria de propor algumas sugestões à Association of Surfing Professionals. A entidade passa por uma fase turbulenta após a mudança do formato dos rankings e, mais do que nunca, precisa de críticas bem elaboradas e construtivas para levantar sua moral, no lugar da chuva de ofensas que vem recebendo, 140 caractéres por vez. Então, vamos a elas:
1. Chega de Kelly Slater!
Sim, foi bom enquanto durou. O careca já deu provas suficientes de que consegue vencer campeonatos mundiais. Vê-lo no pódio já perdeu a graça e ninguém aguenta mais os elogios, as logomarcas e os trocadilhos feitos com seu nome. Sua hegemonia afringe o artigo 7 em combinação com o artigo 171 do livro de regras.
Artigo 7 – A possibilidade da conquista de mais que 10 (dez) títulos mundiais por um único atleta põe sob questão a própria razão por trás de se instituir uma competição, concedendo à ASP a autoridade para acionar o Artigo 171.
Artigo 171 – Qualquer situação prejudicial à ASP, sob julgamento da própria ASP, causada por quem quer que seja, concede a ela o direito de escolher qualquer punição para qualquer envolvido. E ponto final.
Ação: Suspensão permanente do World Tour e transferência imediata do atleta para o Big Wave World Tour, onde ficará sob inspeção para que a mesma infração não se repita por lá.
2. Que se dane, Reynolds
Já está claro que Dane Reynolds não encontra motivação para o Tour. A abordagem que usa em suas baterias dificilmente lhe renderá a disputa por um título mundial. Mas, mesmo assim, ele protagoniza as baterias mais interessantes dos últimos tempos. O que fazer? Deixar o menino brincar! Um bom salário fixo pela participação de Dane em cada etapa do Tour, para a alegria de todos. Até porque, ninguém quer perder a chance de ver uma bateria dele contra Gabriel Medina pelo WT.
3. Bobby Martinez para Diretor de Marketing
Com a velocidade que conseguiu gerar exposição na mídia para sua marca FTW, e a demonstração gratuita de afinidade com a ASP (e tennis!), Bobby merece o cargo!
4. Sistema de pontuação eletrônico, anti-garfada
O critério de julgamento da ASP é um mistério. A única certeza que temos sobre ele até agora é que sua onda vale mais se você é o Kelly Slater e menos se você é brasileiro. A não ser que você esteja no Brasil.
Sendo assim, sugiro um novo sistema de pontuação. Os maiores especialistas da área se reuniriam para atrelar um nível de dificuldade a cada possível manobra. Depois seriam feitos talões (como os da loteria) contendo o nome das manobras e duas variações valendo pontos extras. Então, por exemplo, se o surfista faz um aéreo reverse, os juízes simplesmente preencheriam o espaço referente a manobra no talão. Se o aéreo reverse tivesse sido muito alto e estiloso, os juízes poderiam marcar uma variação valendo ponto extra (+1 por exemplo). E se esse aéreo reverse tivesse sido feito de base trocada e com um pé atrás das costas, por exemplo, valeria dois pontos extras.
Depois de cada juíz preencher seu talão referente àquela onda, todos os talões seriam colocados em uma máquina que faria a leitura e calcularia a nota final. Isso diminuiria drásticamente o fator “subjetividade” na pontuação. Variando somente de acordo com aqueles pontos extras marcados por manobra, que cada juíz será explícito ao marcá-los. Se mesmo assim houver uma pequena falcatrua envolvida, saberemos a quem apontar o dedo. As explicações da ASP quanto às divergências de opiniões sobre pontuação não seriam mais tão vagas e generalizadas.
Sim, essa ideia é um pouco genial e provavelmente é a única que presta entre todas essas sugestões. Isso se deve ao fato de que na verdade ela não é minha. Quem surgiu com essa foi meu amigo, o fotógrafo Pedro Tojal. Eu não sei se a ideia originalmente é dele, mas se for, acho que descobri outro talento natural do cara.
5. Honra ao mérito
Depois de toda a inspiração que Taj Burrow trouxe para o surf progressivo em seus vídeos, 12 anos entre os top 5 do mundo, tantos anos batendo na trave para ser campeão mundial… Ele não pode terminar sua carreira sem esse título! Taj – campeão mundial por honra ao mérito, eu apoio!
6. Sistema de multas beneficentes
Nós já testemunhamos inúmeras vezes a falta de “moral” que a ASP tem no que diz respeito a disciplina dos atletas. As multas, mesmo que de valor simbólico, nunca são efetivamente aplicadas aos infratores, o que acaba manchando o nome do esporte, tanto para o lado da instituição quanto para o lado do atleta. A solução que sugiro é simples: o atleta não apareceu em uma etapa, bateria, coletiva, ou qualquer compromisso oficial que seja? O atleta ficou revoltado por que perdeu a bateria e resolveu surfar na área de competição, completamente ignorando o mundo? A multa deve ser uma doação de valor alto para organizações não governamentais. Pode ser uma instituição de caridade, pode ser a Surfrider Foundation, portanto que este dinheiro esteja sendo usado para uma boa causa. Assim a ASP receberá apoio unânime na hora de cobrar multas e será mais fácil tirar esse dinheiro dos infratores (já que é tudo por uma boa causa). Vendo pelo lado dos atletas, ninguém irá querer ser alvo de críticas por não soltar dinheiro na hora de ser penalizado.
7. “On-line, on time, full-time”
Não dá mais para perder as pérolas que são ditas e os barracos que acontecem dentro d’água. É lá que o bicho pega. Então, por que não usar um sistema de microfones pessoais nos atletas, como aqueles testados no evento Prime Telstra Drug Aware 2010? Assim não vamos perder nada do que é dito dentro d’água durante uma bateria. No evento de Trestles, após a bateria de Mineirinho contra Taj, a troca de elogios entre Mineiro e Slater ficou só na imaginação de cada espectador. Ali pudemos perceber que nem mesmo com o cara gritando conseguimos entender o que é falado lá dentro. Então, se a solução dos microfones for muito cara, é só colocar um telefone a prova d’água com twitter ligado na mão de cada competidor, que dá no mesmo. E em última instância, contratar os surdos que fazem a leitura labial do Fantástico para o webcast. O Zeca Camargo como dublador é opcional.
8. Apimentando o relacionamento
Cansado de ver batidas, rasgadas e aéreos reverse em pranchinhas 6’0 triquilha? O aperfeiçoamento de pranchas chegou a um modelo quase invariável, que chega a ser monótono. Essa técnologia avançada de shapes possibilita batidas, rasgadas e cutbacks em extrema velocidade. Batidas, rasgadas e cutbacks? Está na hora de colocarmos uma emoção a mais naqueles rounds 1 e 4, onde ninguém é eliminado. Afinal, ninguém é eliminado. Sugiro Ryan Burch para o desenvolvimento de suas pranchas assimétricas e a confecção encomenda de alguns blocos brutos especialmente para os atletas do tour. Derek Hynd pode shapear alguns de seus modelos finless, sem quilhas. E que se dane! Até mesmo nosso amigo, agora já assalariado, pode colocar na roda alguns modelos como aquele apresentado na capa da última Surfer Magazine. Aí sim os rounds 1 e 4 seriam descontraídos de verdade e nós veríamos algo de novo sendo experimentado no tour. Assita aos vídeos de Ryan Burch e Derek Hynd abaixo e entenda o por quê.