MÉXICO: A primeira vez a gente nunca esquece

Temporada mexicana a vista. Documentos, grana, visto, tudo em cima. Eu e Pedro Fortes fomos para o aeroporto com as pranchas, equipamentos de fotografia, filmagem e aquela expectativa de ver Puerto Escondido funcionando de verdade. Assim começou a minha viagem para surfar as famosas ondas mexicanas.

Já fiz diversas surf trips e sempre viajei com aquele medo. “E se ficar flat direto? E se não der para pegar ondas boas?”…

Mas desta vez eu sabia que não corria este perigo, já que a temporada mexicana nunca decepciona. Todos que já foram, falam exatamente isso: “Se prepare para pegar as bombas em Puerto”. Outros que estavam lá estreando como eu eram o Gabriel Pastori e o Icaro Ronchi.

[show_avatar email=gabrielpastori9@hotmail.com align=left avatar_size=75]Apesar de muitos pensarem que eu já tinha visitado o México, porque muitos amigos que viajam comigo já estiveram várias vezes por lá, essa foi a minha primeira surf trip para o país. E agora eu entendo porque todos já foram muitas vezes e continuarão indo sempre, como eu.

Gabriel Pastori

[show_avatar email=icaro@grafia.com.br align=left avatar_size=75]A curiosidade de conhecer o México era grande. Muitos dos meus amigos falavam das ondas, das mulheres e da vibe mexicana. Após investir dois anos seguidos nas esquerdas da Indonésia, resolvi mudar um pouco. Por sorte meu amigo Gabriel Pastori teve a mesma ideia e embarcamos para as famosas e pesadas ondas de Puerto Escondido.

Icaro Ronchi

A casa que alugamos em Puerto virou a base e o “nosso” pico. Como toda trip só se torna inesquecível se você tiver alguns perrengues para resolver, desta vez eles já começaram cedo. Minha bagagem, pranchas e equipamentos, assim como a do Pedro Fortes, foi extraviada, ou seja, nossos dois primeiros dias no México, na maior fissura para surfar, e não tinha prancha. O jeito foi recorrer à solidariedade local. Peguei uma monoquilha de um australiano que morava por lá e fui fazer um fim de tarde de cuecão pra afogar as mágoas e limpar a alma.

Até que encontramos a brasileirada, nossas pranchas chegaram e a galera fazia aquele surf divertido junto, pegava uns tubinhos… Mas o “famoso Puerto” ainda não tinha dado as caras. O Gordo, Nelsinho Pinto e Dieguinho Silva, que já estavam em sua terceira ou quarta temporada mexicana, falavam que estava merreca, que aquilo era Puerto pequeno e o swell ia entrar só na semana seguinte.

[show_avatar email=nelsonpn@hotmail.com align=left avatar_size=75]Gosto muito do México pelo fato de ter todo tipo de onda, direita, esquerda, point break, beach break, tubo, manobra, enfim, um lugar perfeito pra testar e aperfeiçoar minhas pranchas. Poucos lugares no mundo tem esse cardápio de ondas.

Nelsinho

Na verdade eu estava me divertindo pra caramba. Como gosto muito de aéreos e manobras, aquele mar que, apesar de não ser o Puerto Escondido que vemos nos filmes, estava cumprindo muito bem seu papel, proporcionando altas imagens captadas pelo Fortes e dando a oportunidade da galera confraternizar dentro d’água. Mais a frente vocês vão entender porque passei a valorizar tanto esta confraternização no line-up.
E assim levamos nossos dias no México. Acordávamos, altas ondas em Puerto faziam a cabeça, almoçávamos antes de entrar o vento e de tarde íamos para La Punta, tentar umas manobras novas e descontrair.

Tiramos alguns dias para conhecer o sul em busca de novas ondas. Alugamos um carro, pegamos quatro horas de estrada e desbravamos muitas trilhas.
Aliás, pegamos altas ondas no norte. O que mais me impressionou foi a quantidade de ondas de qualidade que encontramos ao longo do litoral mexicano. Eram direitas bem longas e com pouquíssimo crowd. A única parte que incomoda um pouco, mas já faz parte da cultura local, são os famosos “tienes guia?”, nos picos mais conhecidos. Para cair nesses lugares só se pode chegar na água com um guia local, ou seja, as vezes você está de carro, desbravando, dá de cara com uma onda perfeita sem ninguém e mesmo assim os locais não deixam você cair sem um guia. Mas no geral só tenho a agradecer por nossas trips de carro para o sul. Valeram muito pelas ondas encontradas.
A galera que estava hospedada no hotel em frente à Zicatela também se aventurou ao sul e pegou altas lá em Salinas.

[show_avatar email=icaro@grafia.com.br align=left avatar_size=75]A região de Salina Cruz fica há algumas horas de Puerto Escondido. Posso dizer que de secret não tem nada lá! Só usam esse nome para pagarmos guias locais pra poder surfar. Mas vale cada centavo pago. São muitas direitas, uma mais perfeita que a outra. É só escolher o que quer fazer e partir para um pico. Se quiser tubo, vai pra La Bamba. Manobras? Vai pra Punta Conejo. Tubos e mais manobras? Toca pra Chivo. E assim vai…

Icaro Ronchi

Mas voltando para Puerto… Acordamos na manhã do famigerado swell e a expectativa era gigante! A galera na casa estava agitada, o café da manhã foi acelerado e partimos para a praia. Uma caminhadinha até a areia e, quando viramos aquela última curva, eis que Puerto mostra sua verdadeira cara… 8 à 10 pés pesados!

O clima já não era mais aquele de zoação na areia. Cada um caminhou até a frente do pico, trocando poucas palavras uns com os outros. Alongamento, última olhada no mar, últimas preces, espera a calmaria e rema como se não houvesse amanhã!
Lembra do que falei sobre o bate-papo no line-up? Pois é, neste tipo de mar ele não existe! Você chega ao fundo e tá todo mundo olhando para o horizonte, concentrado, sem trocar nenhuma idéia. Foi uma cena que me marcou bastante. O Nelsinho caiu mais pra esquerda de Zicatela no dia do campeonato e pegou umas bombas.

[show_avatar email=nelsonpn@hotmail.com align=left avatar_size=75]Esse ano de 2011, não deu nenhum swell acima de 12 pés, o maior dia foi o do campeonato do Coco (Nogales). Eu, como não fui convidado e não queria perder o maior dia da temporada, me joguei lá no meio da praia com a minha 9’0 e no final consegui pegar algumas boas.

Nelsinho

Então lá estava eu, finalmente no momento que tanto aguardei, vendo Puerto Escondido funcionar de verdade e totalmente ADRENALIZADO. Assim que entrou a primeira série, vi como aquele mar é perfeito e perigoso ao mesmo tempo. Não pelo fundo, que é de areia, mas pelas suas ondas que pesam uma tonelada e que, apesar de sua grande maioria abrir, muitas fecham, proporcionando caldos espetaculares.

Olhei por mais algum tempo e tomei a decisão de escolher a minha. Me posicionei, remei em uma bem grande, que deveria ter uns 8 pés, fiz a cavada e vi aquele salão ser arremessado por cima de mim, bem longe da minha prancha. Tão longe que me lembro de pensar que se estivesse de carro dava para estacionar ali. Acelerei e senti aquele sol batendo no meu rosto novamente. Foi só aí que saí do transe e voltei para o planeta Terra, México, Puerto Escondido. Gabriel, Gordo e Dieguinho também pegaram altas nos dias grandes em Puerto.

[show_avatar email=gabrielpastori9@hotmail.com align=left avatar_size=75]Rolaram dois swells grandes em Puerto. No primeiro deles surfamos boas ondas de uns 12 pés e o crowd estava tranquilo, talvez pelo tamanho das ondas. Todo mundo botou para baixo, com destaque para um tubo do Gordinho um dia antes do campeonato, feito para convidados pelo mais conhecido local do México, Coco Nogales. Três brasileiros representaram muito bem a nossa bandeira na competição: Diego Silva, Cristiano Bins e Gordo, que ficou em quarto lugar. Durante a competição, o resto da galera surfava fora da área dos competidores ou após o término das baterias. Quando o campeonato acabou, as ondas ainda estavam bombando e Dieguinho fez um dos melhores tubos da temporada. Uma onda quadrada para direita que se resume em um dropão de grab, uma placa gigante caindo e ele só aparecendo lá depois da baforada!

Gabriel Pastori

E assim foram meus 40 dias passados no México, regados a muitos tubos, tequila e amigos. Em cada surf trip você aprende coisas novas, conhece pessoas novas e tira lições que enriquecem não só sua vida, mas a das pessoas que compartilham momentos tão especiais com você. Só tenho a agradecer ao México e aos meus amigos que estiveram lá comigo, fazendo com que Puerto ficasse guardado na minha agenda de 2012 como um lugar a ser visitado novamente.

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