A primeira etapa do World Tour 2012, em Gold Coast foi marcada por uma performance imponente do Brasil, com o apoio de uma torcida verde e amarela que compareceu em peso nas areias de Snapper Rocks. Os confrontos diretos entre brasileiros e australianos também se tornam cada vez mais recorrentes e é possível que estejamos diante de uma nova grande rivalidade no WT, mas dessa vez, quem levou a melhor foram os aussies.
No Round 3, Miguel Pupo eliminou Mick Fanning surfando com facilidade as ondas mais longas da bateria e encaixando mais manobras nelas. Mick surfou as ondas erradas no início da bateria e gastou o tempo restante esperando no outside por uma onda que não apareceu. Por mais que a pontuação das ondas de Pupo parecessem mais baixas do que deveriam ser, Mick cooperou e Miguel garantiu seu lugar nas quartas, contra Adrian Buchan.
Foi aí que a facilidade de Pupo nas direitas de Snapper começou a se tornar um problema no que diz respeito aos juízes. Apesar dele ter jogado mais água, invertido mais nas manobras e simplesmente surfado mais do que Ace, sua pontuação foi claramente prejudicada. Da mesma forma que Adriano de Souza foi “empurrado” pelos juízes na bateria contra Owen Wright durante o WT Rio do ano passado – Owen foi surpreendido com um magro 6.60 depois de um slob e, logo depois, com o 8.23 entregue a Mineirinho por um único floater – Adrian Buchan virou a bateria no finalzinho com uma onda curta de duas batidas rápidas e uma rasgada, seguida de uma extensa comemoração, que lhe rendeu 7.03.
É difícil assistir a um surfista local surfando com toda a confiança do mundo e recebendo o apoio de sua torcida, sem ser influenciado ao pontuar suas ondas.
Por isso, creio que essas “falhas humanas” continuarão acontecendo por parte dos juízes e os surfistas cada vez mais terão que usar de artifícios que tornem seu surf mais envolvente – a “dramatização” de suas performances é um deles, que se usado na hora certa e na dose certa, com certeza farão uma diferença.
Josh Kerr, nas quartas-de-final, também protagonizou uma importante revanche. Depois de perder quatro vezes para Kelly Slater em quartas-de-finais do World Tour no ano passado, o aussie local de Snapper finalmente conseguiu seu troco e mandou Slater pra casa sem bilhete de volta garantido. O 11x campeão mundial ainda pensa na possibilidade de competir em Bells Beach, próxima etapa do tour.
Na final, mais um flashback do WT Rio: Taj Burrow e Mineirinho. Porém, dessa vez não era a praia inteira do lado do surfista local e, o visitante não deixou nem um pouco a desejar, como aconteceu há quase um ano atrás. Muito pelo contrário, ao invés de falhas precipitadas como as cometidas por Taj no Rio, resultantes da pressão da torcida, Mineiro lutou até o fim com uma vontade convincente e manobras fortes, aplaudidas de pé pelo contingente brasileiro presente em Snapper Rocks. O brasileiro já vinha voando alto desde as quartas, contra Owen Wright, quando arrancou um 9.00 dos juízes com um aéreo invertido aterisado no flat de forma espetacular, depois contra Josh Kerr nas semis e, na tentativa de virar a disputada bateria contra Taj na final, precisando de 7.87, Mineirinho voltou a soltar sua marca registrada, o aéreo reverse invertido – que tantas vezes vimos render notas acima dos 8 pontos –, porém, não foi o suficiente. A onda valeu 7.60 e, dessa vez, os aussies tiveram sua revanche por uma diferença de menos de 0.20.
Apesar do polêmico julgamento das baterias de Pupo e Mineiro, a postura do time brasileiro continua se resumindo a suas performances na água, diferente do falatório que envolve as polêmicas decisões que prejudicam os surfistas de outras nacionalidades. Até neste quesito parecemos estar no caminho certo, depois de encarados como a “zebra” do esporte por décadas, os brasileiros conquistam cada vez mais seu espaço e respeito entre os maiores, simplesmente pela determinação e resultados. Parabéns Pupo, Mineiro e todos os nossos representantes.