Entrevista: Saint, Weird Clothing Co.

Andre: Conte um pouco sobre o que é a Weird hoje.

Weird: Ao meu ver, a Weird é um exemplo de criação que transformou-se em algo muito maior que o criador. Basicamente perdemos o controle … e a iniciativa transformou-se em uma espécie de movimento, agregando todos aqueles desajustados no contexto de massa. Sejam eles inseridos na moda, arte, esporte… clientes transformaram-se em pelotão com a bandeira levantada pela Weird para representar sarcasmo, contestação, irreverência e humor negro, usando a criatividade para apresentar algo diferente no segmento.

Andre: E como foi o começo, com os filmes de surf?

Weird: A Weird iniciou-se em 2003, praticamente sem investimento e sem um plano de negócios para inserção no mercado, mas a intuição e os contatos certos foram divulgando seus ideais para o target idealizado. Inicialmente a empresa focou-se em uma divulgação por meio de vídeos de surf, mercado ainda pouco explorado nacionalmente na época, sendo pioneiro em trilhas sonoras desgraceiras e um foco distinto na maneira como o surfista era apresentado … tanto tecnicamente quanto em sua personalidade.

Os videos foram tomando reconhecimento, por sua linguagem tosca e ” seca “, edição simples, trilha sonora pesada, e garotos desconhecidos pela mídia inovando em truques de surf. Tudo isso em meio a desastre, mendigos, prostitutas, e delinquência juvenil.

Andre: Vocês saíram do sul e agora moram em São Paulo. Como foi essa mudança e como vocês acham que isso influenciou no que vocês fazem?

Weird: Como caipiras na cidade grande, primeiro ficamos com medo, e agora aprendemos a tirar de dentro desse caos da cidade grande, muita inspiração e parceiros para fazer algo diferente, São Paulo é um mal necessário!

Andre: Como anda a relação de vocês com o surf hoje em dia?

Weird: Uma bosta. O surf tem decaído muito em sua evolução se comparado à década de 80 e 90. O surfista tem se mostrado cada vez mais ignorante, com mal gosto e seu mercado cada vez mais nojento e asqueroso. isso nos fez acreditar cada vez mais no caminho que vínhamos trabalhando.

Andre: Como que é surfar e ao mesmo tempo fazer camisas com “we hate surfers“?

Weird: Não consideramos o estilo de surf praticado por nossa equipe, SURF, e nem SURFISTAS. a frase ” kill all surfers ” remete a surfers não como substantivo, mas  adjetivo, ou seja, o “surfers” da frase é o estereótipo de surfista, aquele que insiste em deixar claro ao seu meio que é um “surfista”, que sai com as mulheres mais “bonitas”, (mesmo elas parecendo umas ameixas secas e cansadas), que também leva um estilo de vida natural (mesmo sendo o primeiro a financiar o tráfico com sua maconha e cocaína nas festinhas), e também o primeiro a comentar como é bom dentro d’água, forçando uma espécie de outdoor ambulante usando apenas as marcas da moda. Surfista normalmente é chupim, pula de galho em galho, buscando apoio de marcas apenas para colocar um adesivo na prancha em troca de um par de tênis.. e se uma marca concorrente oferece esse mesmo tipo de tênis, embora com um cadarço verde limão escroto, ele muda o adesivo sem pestanejar.

Andre: Fale um pouco sobre como foi desenvolver as Airboards.

Weird: As Airboards foram uma consequência do estilo de surf praticado pela equipe… buscando cada vez mais a utilização das duas bases, altura, projeção e etc. A equipe foi naturalmente diminuindo as pranchas, conversando com shappers e desenvolvendo uma prancha que se difere completamente com o que se encontra hoje no mercado. Tivemos grande influência de parcerias nossas como a Fifty Fifty Wave Skates, desenvolvida na Califórnia que nos ajudaram a ter uma base para começar.

As airboards proporcionam um desempenho bem distinto na onda e se encaixam perfeitamente ao estilo de ondas que encontramos em nosso litoral. Para quem não conhece, as pranchas airboards costumam ir de 4’6 a 5’0… bem menor do que é considerado prancha minúscula no circuito profissional de surf.

Andre: Hoje em dia tem bastante gente na internet falando mal da asp e do surf de competição… Vocês tem acompanhado isso? Qual é a opinião de vocês sobre o tour? o que vocês acham do Kelly continuar ganhando?

Weird: Em minha opinião o WT é como pornô de travestis. Não me interessa, apenas está lá… e assiste quem quer. Se o WT é funcional, organizado, e profissional? sim! Eles tem mostrado uma boa melhora no critério de julgamento, e acredito que tem dado uma melhorada, mas como qualquer grande corporação, eles têm a linguagem mastigada para o povo: o herói, o vilão… e tudo isso parece muito falso e combinado para mim. De qualquer maneira, com relação ao Kelly Slater, ele sem dúvida um monstro dentro d’água. Dificilmente alguém será tão completo quanto ele, mas se me perguntarem, eu prefiro mil vezes mais assistir a uma sessão suja do Fletcher com base aberta, horrível, ou mesmo Teletubbies ao invés da competição envolvendo o herói. Questão de gosto…

Vídeo filmado durante uma session em Balneário Camburiú.

Andre: Vocês patrocinam o Zach (Rhinehart), tem um relacionamento com a Azhiaziam e com a Anti-Hero. Como vocês vêem a recepção do trabalho que vocês fazem aqui no Brasil e lá fora?

Weird: Temos hoje um trabalho de parceria na California com Zach Rhinehart e Ryan Carlson… são dois filhas da puta nos aéreos e as sessões de vídeo de ambos deixam qualquer um de queixo caído. Trouxemos eles ao evento Darktricks de aéreos realizado ano passado no sul e ambos se atolaram nas ondas horríveis brasileiras, encheram a cara, e tivemos até problemas com desacato à polícia, o que nos custou nossa Kombi :). Mas valeu a pena! O Mike da Azhiaziam é uma parceria desde o início da marca.. somos amigos e seu trabalho na Califórnia é muito legal e sincero. A Anti-Hero se tornou nossa ligação mais forte, em termos de mercado, com o skate aqui no Brasil. Iniciamos uma parceria para revenda de seus produtos em nossa online shop e tem dado certo. O link entre skate e surf é cada vez mais importante para nós. Acredito que temos uma responsabilidade com todos aqueles que seguem e acompanham a marca. Trabalhar com a Weird é quase que uma dívida com nosso segmento, e levamos essa dívida muito a sério. Nosso trabalho lá fora tem recebido uma aceitação razoável, pois não expusemos nossas ideias doentias  de forma concreta ainda por lá.

Vídeo do evento com o Zach e o Ryan:

Revista eletrônica com o que rolou no evento:

Andre: Vocês tiveram uma loja no Morumbi shopping, na Guarujá e têm a loja em Balneário Camburiú. Como está sendo essa experiência? Andam traumatizando muita gente?

Weird: A Weird mantém uma estratégia suicida nômade em lojas. Quando vamos conquistando clientes, e pegando o ritmo do local, mudamos…. é uma estratégia estúpida e financeiramente desgastante! Mas no final das contas, acabamos atendendo um público de diferentes locais e a montagem de lojas vem se transformando em rotina para nós. Pensamos até em mudar o nome da Weird para Graneiro, embora em breve é provável que acabemos todos trabalhando por lá mesmo…

Andre: E quais são os planos para o futuro?

Weird: Como diz um grande sábio que acompanha a gente há um tempo, o Rogê(nto), da banda Lo-Fi: “não importa onde os pau vão chegar… o importante é o role”.

Queríamos apenas agradecer a todos os Weirdos que acompanham, e nos dão e deram possibilidade de seguir trabalhando com algo que gostamos e fazemos com dedicação.

Um comercial de 30segundos (?!)

Revista eletrônica com as imagens da gravação do programa MTV Sports.


Abaixo, algumas fotos de Nicolas Delavy.

Layback TVSurf