Durante a terceira bateria do Round 4 do Billabong Pipe Masters 2012, algo no mínimo bizarro aconteceu envolvendo Gabriel Medina e Kelly Slater.
Josh Kerr liderava a bateria quando deslocou seu ombro em um wipeout. Ainda faltando 20 minutos para o final, o aussie saiu da água para um check-up e voltou para o outside, onde ficou boiando pelo resto da bateria, com Medina em segundo e Slater em terceiro.
Com apenas 15 segundos restantes, Medina disputou uma onda com Josh Kerr (que a essa altura só estava atuando na defensiva) e pegou um tubo que possívelmente seria sua chance de virada. Na saída do tubo entre a espuma, Medina caiu ao se chocar contra uma metade da prancha de Kelly Slater, que havia sido quebrada minutos antes e se encontrava à deriva no lineup.
Ironicamente, o cenário que já havia sido suposto pelos comentaristas do webcast durante as primeiras baterias do evento, foi novamente levantado por Gerry Lopez minutos antes do acontecimento, enquanto observávamos metade da prancha de Slater boiando no lineup.
“O que aconteceria se a prancha de Slater atrapalhasse a onda de outro surfista? Seria uma interferência?”, Gerry perguntou, mas sem receber nenhuma resposta séria dos narradores do webcast. De fato, foi o que aconteceu logo na seguida e nós também nos perguntamos a mesma coisa. Afinal, a prancha foi deixada ali por Slater e presume-se que ainda esteja sob sua responsabilidade.
Gabriel Medina precisava de 6,07 para virar e, nesta onda, ganhou apenas um 2,17. A situação não acarretou nenhuma penalização para Slater e os dois caíram para a repescagem, onde Medina foi eliminado por Yadin Nicol.
Entramos em contato com representantes da ASP afim de receber algum esclarecimento sobre que consequências uma situação dessas pode ter, de acordo com suas regras.
“Certamente foi uma sequência de acontecimentos bizarros durante aquela bateria. Não houve nenhuma penalização por interferência dada pelos juízes por dois motivos: Kelly não quebrou sua prancha intencionalmente e deixou um pedaço no caminho de Gabriel, e por conta da natureza de Pipeline, o resgate da prancha quebrada não seria possível naquela hora. Mesmo se uma interfência tivesse sido marcada, isso não iria afetar o resultado da bateria. Ou seja, Kelly continuaria terminando em terceiro, Gabriel não terminaria aquela onda e continuaria terminando em segundo, e Josh teria ganho do mesmo jeito. Foi algo infeliz porém inevitável.”
Vendo por esse lado, é verdade que a única providência que caberia à ASP seria marcar uma interferência contra Kelly Slater, o que não mudaria nada e a nota de Medina naquele tubo continuaria sendo prejudicada pela prancha de Slater. O único fato curioso é constatar que a ASP não considera esta situação – que por mais que seja incomum, é completamente plausível em um campeonato como o Billabong Pipe Masters – em seu livro de regras e, em outras circunstâncias, possivelmente é algo que acarretaria consequências decisivas.
Caso Gabriel Medina avançasse a repescagem e chegasse a final do evento, ele alcançaria o quarto lugar do WCT e tomaria o Rookie of The Year das mãos de John John Florence. Uma coisa é certa, sem querer usar muito da visão holística da coisa, o universo parece estar conspirando e cada vez mais discussão é gerada em relação ao time de brasileiros no Tour, e isso pode ser interpretado como um sinal de grandes mudanças que estão para acontecer no cenário.
Quantos anos mais você daria até que um brasileiro seja coroado campeão mundial?
Clique aqui para assistir a colisão entre Medina e a metade da prancha de Kelly Slater pelo Heat Analyzer do Billabong Pipe Masters.