Depois do erro brutal cometido pela comissão julgadora da ASP na final do Rip Curl Pro Portugal 2012, favorecendo Julian Wilson sobre Gabriel Medina, uma nova polêmica ameaça se alastrar em relação ao julgamento da final do Vans World Cup of Surfing 2012, em Sunset Beach, Hawaii. Apesar da espetacular performance brasileira, com quatro surfistas nas quartas de final e Gabriel Medina – insistentemente apontado como um “surfista de aéreos” por desentendidos – com o vice, a atenção do público brasileiro rapidamente mudou de foco.
Poucos elogios foram lançados à Jessé Mendes, que não deu sinais de sua recente contusão no calcanhar surfando as tais “ondas de verdade” com propriedade e mostrando seu claro potencial de classificação para o WCT, e não só por seu mérito nos aéreos. O foco inabalável de Ricardo dos Santos e o que ele hoje representa para o surf brasileiro – para quem enxerga além dos rankings – mal foram mencionados, assim como o fim da excelente corrida pela classificação de Jean da Silva este ano. Os reverenciamentos ao power surf cada vez mais consistente e a atitude humilde de Alejo Muniz, no páreo para um inimaginável e inédito título do Vans Hawaiian Triple Crown para o Brasil, também não foram suficientes.
Os comentários nas mídias sociais e ataques à ASP novamente envolvem Medina, que teve a chance de virar a bateria com um tubo surfado há dois minutos do final, enquanto os juízes ainda digitavam suas notas para a onda anterior, um 9.33 que tirou Adam Melling da quarta para a primeira posição. Com o tubo, Medina conseguiu um 8.17 que ainda está entalado na garganta de muitos torcedores brasileiros.
Se o tubo de Medina valeu mais do que isso ou não, uma coisa é certa: diferente do que aconteceu em Portugal, o julgamento do campeonato desta vez foi coerente. Sob um olhar otimista, isso significa que nem tudo está perdido! Desde o início da etapa, estava claro que os juízes queriam ver manobras de borda, e todos os surfistas que se enquadraram neste critério foram recompensados – inclusive os brasileiros.
A adaptação do critério de julgamento de um campeonato para outro é algo claro no livro de regras da ASP, e a onda de Sunset favorece o surf de linha, assim como Teahupoo favorece o tubo. Da mesma forma que um aéreo é desvalorizado em Teahupoo, os tubos estavam sendo desvalorizados desde o início do Vans World Cup.
Na própria final do evento, o havaiano Sebastian Zietz surfou um excelente tubo nos minutos iniciais da bateria e recebeu um 7.67, que já era uma nota alta para os padrões dos tubos do evento que foram julgados na casa dos 6 pontos em sua maioria – assim como o tubo de Adam Melling, também na final.
Sendo assim, seria incoerente valorizar o tubo de Medina mais que qualquer outro no campeonato, teoricamente deixando pouca margem para erros. Tudo faria perfeito sentido, se o tubo do garoto não tivesse sido o mais clean do campeonato! Quando se trata de meio ponto para a definição de um campeão, nós voltamos à velha questão da subjetividade.
De qualquer forma, a questão da subjetividade – a do meio ponto a menos ou a mais – agora parece infinitamente mais fácil de engolir do que a incoerência explanada que fomos obrigados a lidar durante o Rip Curl Pro Portugal deste ano. Parabéns Gabriel Medina e toda a tempestade brasileira.