No dia em que um dos maiores ídolos da história da música, Sir Paul McCartney, voltou a se apresentar no Rio após duas décadas , com 45 mil fãs o assistindo no Engenhão, algumas pessoas preferiram ir à singela lona do Circo Voador para assistir ao trio californiano Sublime With Rome. Com certeza, ninguém se arrependeu da escolha.
Dois mil fãs lotaram o Circo para o tão aguardado show do Sublime With Rome. Foram anos de espera que culminaram num dos melhores shows que a casa já viu. Da formação original do Sublime, apenas Eric Wilson estava presente. O baterista Bud Gaugh não veio à turnê brasileira e em seu lugar estava Matt Ochoa, baterista da banda The Dirty Heads, o que decepcionou alguns fãs, mas esse sentimento durou pouco. No momento em que a banda pisou no palco, o Circo veio a baixo.
Rome Ramirez estava mais confiante do que nunca, os cariocas o acolheram de braços abertos e a interação com a galera foi imediata. Deu pra perceber que ele estava em casa. Substituir o icônico Bradley Nowell nos vocais é uma árdua tarefa, mas Rome fez o que pode e conquistou o seu lugar. O público era composto basicamente por aficionados que pularam e cantaram junto durante todo o show, fazendo um barulho que deixou a banda visivelmente surpreendida. Rome garantiu pelo menos três vezes que aquele era o melhor show da turnê.
A banda começou com a clássica “Don’t Push” e, com pouco tempo de show, Rome começou a interagir com o público, primeiro atendendo ao pedido de “Jailhouse” e depois de um coro ensurdecedor pedindo por “Seed”, Rome deixou claro: “vocês pedem, a gente toca!”. A roda tomava a lona do Circo quase por completa ao som de uma das favoritas do disco homônimo (último com Brad), que muitos fãs do Sublime já tinham se conformado em nunca ter a oportunidade de escutar ao vivo, pois o grupo terminou logo após o lançamento do disco. Mesclando algumas músicas novas no set, a banda surpreendia com uma pedrada atrás da outra. Qualquer música era celebrada como uma favorita por todos presentes e o ritmo se intensificava cada vez mais.
Foi então que os primeiros acordes de “Badfish” foram tocados e a resposta do público atingiu um outro nível.
A partir daí, Rome parecia incrédulo diante daquilo e até Eric, na sua emblemática serenidade, com um cigarrinho no canto da boca, começou a mostrar alguma emoção. Os dois chegaram a andar de um lado a outro do palco olhando a plateia gritar incessantemente.
Isso rolava durante o intervalo inteiro entre uma música e outra sem parar. Coisa rara de se ver, até mesmo para um membro do Sublime acostumado à estrada desde os anos 80. Eric foi ao microfone e balbuciou elogios que se misturaram aos gritos da plateia e não se entendia uma palavra a não ser quando se fez claro dizendo: “This is a REAL rock n’ roll show!”, já sem camisa, exibindo seu físico invejável. Como recompensa, a banda tocou uma sequência de hits que levou a galera ao delírio. “What I Got” foi dedicada a Bradley e ao sair do palco o pedido de bis foi ensurdecedor. Rapidamente a banda voltou e finalizou tocando “Santeria”, com todo mundo gritando cada verso junto a Rome. Fim de show e Eric arrancou as cordas de seu baixo uma a uma como se fossem de barbante, lançando-as pra galera. Eles continuaram doando tudo que tinham por perto no palco até que, em um último gesto, Rome pegou sua guitarra pelo braço e a entregou para a primeira fila da plateia.
Talvez ele não imaginasse no que aquilo resultaria, mas um grupo de pelo menos 10 fãs se dedicaram a levar para casa a melhor lembrança imaginável de um show tão memorável. Se dedicaram tanto que, após 20 minutos, o grupo ainda vagava pelos arredores da lona, agarrados ao souvenir. Ninguém iria ceder, nenhum dos que estavam com suas mãos na guitarra iria deixá-la e assim permaneceram até que os seguranças os direcionaram para fora do estabelecimento, onde os fissurados continuaram o teste de resistência Lapa a fora. Como já era de se esperar, após pelo menos uma hora de “luta” e uma guitarra aos pedaços, alguns sortudos e exaustos fãs conseguiram levar para casa um pedacinho daquela Fender Stratocaster que havia feito tanta gente feliz naquela noite. Além de uma ótima estória para contar, é claro!
“Assim que vi a guitarra, eu e um amigo voamos em cima. Peguei-a pelo braço e pelo corpo e combinamos de não largar de jeito nenhum. Outras pessoas que nem estavam lá perto vinham chegando e se agarrando na guitarra também, rolou de tudo, empurrão, bico, pisão no pé… Na hora de subir as escadas pra sair da lona muitos foram caindo e ficando pelo caminho. Os seguranças deixaram a gente se virar, mas depois viram que a disputa ia render e nos direcionaram até a porta de saída. Éramos quatro, muitos tentavam chegar junto, mas conseguimos nos livrar de todos e chegamos a combinar de pegar um táxi para resolver a situação em outro lugar. Era difícil chegar a um acordo. Foi sugerido até tirar na sorte, mas pra quem estava lá desde o início seria muito injusto sair de mãos vazias depois de tanto esforço. Logo depois chegou muita gente em volta e do nada já tinham uns oito agarrados na guitarra puxando e eu já ficando fraco. Depois de um tempo, resolvemos quebrar. Todo mundo pisou nela no chão, mas ela não quebrava de jeito nenhum, então, deixamos um dos caras quebrar na parede. Foi pedaço pra tudo que é lado e cada um pegou o que conseguiu. Fiquei com umas lascas, uma mola, e um dos caras que ficou com parte do braço aceitou me dar um botão de volume que tinha conseguido também. Foi foda porque quem ficou com as melhores partes, a mão, os captadores e etc, não foi nenhum de nós quatro, que estávamos lá desde o início!” – Vladimir Assunção
Confira a entrevista com o baixista Eric Wilson antes do show no Circo Voador.
Marcos Myara: Como foi aquele momento exato em que vocês decidiram voltar com o Sublime?
Eric Wilson – Foi um momento maravilhoso e eu nunca o esquecerei… talvez nem tanto porque eu estava doidão!
MM: Você e Bud já tinham pensado em fazer isso antes de conhecer o Rome ou foi por algo que só ele tinha?
EW – Ele simplesmente apareceu em nossas vidas e ele tinha o que precisávamos.
MM: Como foi tocar no SWU ano passado? E qual a expectativa de tocar agora para um público mais selecionado em um lugar menor?
EW – A resposta do público brasileiro é ótima. Não precisamos de uma plateia grande. Desde que a energia estejá lá, a gente toca até em um barraco!
MM: Qual a melhor coisa de voltar com o Sublime?
EW – Tocar com o Bud novamente.
MM: Alguma banda brasileira de sua preferência? E quanto a música em geral, o que tem escutado?
EW – Sepultura! E também tenho escutado bastante Ween