Após toda a comoção gerada pelo curta metragem da Globe, Electric Blue Heaven, a piscina de ondas Wadi Adventure, em Al Ain, nos Emirados Árabes, se tornou uma espécie de paraíso intocável que serve de cenário para os sonhos de muitos surfistas ao redor do mundo. A superprodução com Dion Agius, Lamborguinis e modelos Russas ao redor da piscina contribuiu para essa impressão do lugar, mas na verdade, esse sonho não é tão surreal assim. O californiano Tom Rezvan pagou para ver e o resultado você confere com exclusividade aqui na Layback.
O Paraíso é Aqui
Conte-nos um pouco sobre você e onde você normalmente surfa.
Tenho 36 anos, comecei a surfar aos 11, profissionalmente aos 18, participei de algumas etapas locais do WQS e me tornei praticamente um freesurfer. Eu gosto de explorar novos lugares, eu já estive nas ilhas Mentawai 17 vezes e tenho bons contatos lá com o pessoal que organiza os boat charters. Basicamente, eu queria experimentar algo diferente esse ano. Eu gosto simplesmente de surfar, seja em sessões de freesurf ou em algum eventual campeonato, o importante é se manter viajando e evoluindo o surf. Eu nasci e cresci em Huntington Beach, Califórnia, e surfava no Pier regularmente. Sempre vou também para Lowers, onde surfo há mais de 20 anos, Blacks Beach, em San Diego e Newport.
Foi sua primeira vez nos Emirados Árabes?
Sim, foi minha primeira vez. Mas que eu saiba, se você está no Brasil, por exemplo, os voos para a Indonésia geralmente fazem conexão em Dubai, e eles querem justamente incentivar as pessoas a pararem por pelo menos um dia para visitar a Wadi Adventure no caminho. É capaz de você acabar pegando as melhores ondas da trip, ou a maior quantidade de ondas, em um dia do que em seu destino final, na Indonésia.
Você decidiu fazer essa trip por causa do filme Electric Blue Heaven, da Globe?
Sim. Foram dois vídeos que me inspiraram, o primeiro foi o viral do YouTube que saiu no início do ano e teve mais de um milhão de views. Esse vídeo, na verdade, é de um dos caras que me ajudaram bastante, o Luke Cunningham, queria agradecer ao Luke e também ao Ryley Heffernan e Ben Barker e o resto do pessoal que me deu uma força nessa viagem e me apresentou à piscina de ondas. Então, foi esse vídeo e depois o vídeo da Globe, que me fez bater o martelo.
Eu o assisti o Electric Blue Heaven numa noite em casa e pensei “Quer saber? Isso parece uma sonho fantasioso mas é praticável, não é impossivel”, você não tem que ser um superstar, você não tem que ter um milhão de dólares, e foi mais ou menos assim que pensei ao ver o vídeo.
Então, fiz uma pesquisa, descobri os preços e eles eram bem razoáveis. Em 3 ou 4 dias eu estava lá, surfando na piscina.
Quanto custa para surfar lá?
Você pode alugar a piscina só para você, ou dividir ela com até seis pessoas. Sozinho ou com uma outra pessoa é a melhor forma. Custa por volta de $160 dólares, dependendo da cotação do dólar lá.
E a experiência foi de acordo com as suas expectativas?
A experiência superou as minhas expectativas! Eu nunca tinha surfado uma piscina antes. Já tinha surfado em rios, mas as ondas eram um pouco fracas. Essa é uma onda de verdade, que te proporciona impulso suficiente para entrar remando e surfar, ao contrário das piscinas em outros países que você precisa fazer tow out ou a onda é pequena demais… essa é à vera! E nada é mais divertido do que pegar várias ondas, evoluir e fazer coisas que você nunca fez antes. Quando você aprende novas manobras surfando é bom demais e, ao olhar para as fotos depois, você pensa “wow, isso aconteceu mesmo? Eu estava surfando no meio do deserto, à 150km de distância do oceano?”. E de fato aconteceu, é de verdade.
Então, onde fica esse paraíso afinal?
Fica em Al Ain, nos Emirados Árabes, à uma hora de distância de Dubai. É, na verdade, mais perto de Abu Dhabi, no meio do deserto.
E como foi a logística toda para chegar lá?
Tem esse hotel que eu fiquei, que é bem no topo de um dos únicos morros nos Emirados Árabes, no final de uma estrada sinuosa que faz um zigzag até o topo. Após 15 ou 20 minutos, você está nesse hotel de luxo, $100 dólares por noite, com café da manhã, e com uma vista sobre os Emirados. Uma hora dirigindo, sem trânsito, e você está lá. E você pode alugar um carro direto no aeroporto e estar surfando mais ou menos uma hora depois de recolher sua bagagem.
Como é surfar lá?
Bom, eu surfei mais em dois dias – oito horas cada – do que surfaria durante um mês em casa. A sensação é parecida com estar surfando seu localbreak, com meio metro de onda. Acredito que uma prancha de epoxy seria a melhor opção, pela flutuação extra (você não consegue tanta flutuação quanto na água salgada). Em uma sessão, você tem 46 ondas, intercaladas por 90 segundos, e você consegue pegar todas elas no intervalo de uma hora.
Que tipo de formação a onda tem?
Você pode escolher entre uma esquerda, uma direita, uma onda que divide o pico ou uma onda que fecha e faz uma junção boa para dar aéreos, que é a opção mais popular.
Você conseguiu fazer algum progresso surfando nesse dois dias lá?
Seu surf evolui nas primeiras horas que você está lá, por conta da quantidade de ondas e a oportunidade de treinar na mesma onda a cada 90 segundos, ao invés de concorrer com o crowd e não pegar uma mesma sessão por horas ou até mesmo semanas, se o pico ficar flat. A curva de aprendizado é 1000% mais íngrime, seja para o iniciante ou para o surfista de nível avançado. Você pode demorar meses ou anos para aprender o que você consegue fazer nessa piscina em algumas horas. Então, eu acho que o futuro do surf progressivo certamente está nas piscinas de ondas. No meu caso, pessoalmente, aprendi novos aéreos que nunca tinha conseguido mandar antes. Por exemplo, eu fiz um stalefish air reverse, e isso é algo que nunca havia conseguido porque nunca quis desperdiçar ondas para treinar isso seguidamente. Em dois dias, eu completei 20 aéreos, o que é um número maior do que consigo fazer em mais de uma semana, normalmente, então você se acostuma mais fácil.
E eles surfam por lá?
Muitos surfistas no Oriente Médio – e outros pelo mundo – aprenderam a surfar nessa piscina de ondas antes mesmo de tentarem no oceano. Surfistas com empregos comuns, dirigem de Dubai para lá, alugam a piscina por uma hora, pegam 46 ondas de manhãzinha e depois voltam para começar o dia no escritório, felizes, tendo pego mais ondas no intervalo de uma hora do que o surfista desempregado em um dia no seu localbreak. Eles vão lá, fazem o que tem que fazer e depois vão trabalhar. E fazem isso à noite também, nos dias que eles ficam abertos até as 11pm, com iluminação ao redor da piscina.
Então parece que vai ter muita gente optando por um voo com conexão por lá à partir de agora…
Sim, certamente. Outro lado interessante é quando se pensa em competições. Nessa piscina, especificamente, um campeonato de aéreos seria perfeito e eu só imagino o que caras como Gabriel Medina, Owen Wright, John John Florence e Dane Reynolds seriam capazes de fazer, tendo a mesma onda para surfar a cada 90 segundos. Seria um cenário justo para a competição no surf, pois o vencedor seria o cara que estivesse surfando melhor no dia, e não aquele com uma certa estratégia ou a sorte de algum benefício por conta de outros fatores. E mais, seria um cenário impressionante para sessões de fotos para marcas do mercado. Você consegue fotos inacreditáveis de diferentes ângulos, inclusive à noite. As possibilidades são infinitas…