O campeão do último ano do circuito brasileiro de surf, Tomas Hermes, acaba de lançar Simplesmente Decorado, um filme produzido inteiramente por conta própria e com um conceito bastante diferenciado. Entre suas referências, estão alguns dos projetos mais audaciosos da cena de surf internacional, e entre seus projetos, algumas das ideias de maior personalidade no Brasil.
Qual é a ideia por trás do filme Simplesmente Decorado?
No início, eu não tinha a ideia de fazer o filme, mas foi tudo acontecendo por conta própria. A minha cabeça não para e eu estou sempre pensando em fazer algo, então o filme foi o resultado no final. Eu gosto de fazer muita coisa relacionada a design, mas como fiz tudo sozinho, muita coisa eu não sabia como fazer, mas pesquisando no YouTube eu fui fazendo a edição, assim como faço as atualizações no meu blog. Eu evolui muito durante o ano e pretendo continuar produzindo projetos novos dessa forma, que retratem as coisas que vejo, que vivo e me interesso de uma forma bem pessoal.
E como foi feito o filme?
Eu não fiz um roteiro, não viajei para algum lugar específico para filmar, foi tudo meio que acontecendo. O filme também não é muito auto-explicativo, não tem uma narrativa. Eu prefiro passar o que eu sinto nas imagens e fotografias. Depois de um ano de filmagem, foram mais três meses de edição e eu procurei referências em vídeos de moda e também nos filmes de surf de film makers como o Kai Neville e o Pablo Aguiar, sempre tentando colocar algo diferente no trabalho. Eu acho que essa nova geração de film makers tem uma mensagem muito legal pra passar. Eles estão criando uma cultura diferente no surf, que sai fora daquela coisa de “estar na praia de bermuda e chinelo”, Soul Surf, etc. Existe um coletivo e eles mesmos, os protagonistas, estão mostrando o que está acontecendo com o surf hoje.
Então a ideia é mesmo ganhar sua exposição por conta própria?
Sim, reunir uma galera e fazer um negócio mais próprio. Aqui no Brasil todo mundo só divulga competição. A gente não consegue criar ídolos porque ninguém tem a chance de conviver com um surfista no dia-a-dia e poder se espelhar nele, vê-lo como ídolo. Aqui é só competição, se você não corre campeonato, você tá fora. Enquanto lá fora, se formos ver como alguns desses caras tipo o Julian Wilson e Dane Reynolds surgiram, eles não dependeram tanto de vencer campeonatos, e hoje muito menos…
Sim, caras como o John John e o Dane Reynolds vem investindo pesados em câmeras, equipamentos próprios, film makers…
Eles estão muito ligados a isso. Você vê que eles saem de uma etapa e já fazem alguma viagem direto pra produzir um material, eles estão sempre com uma máquina na mão. Então não tem mais esse negócio de “você tá ali pra competir”, eu acho que você tem que se divertir ao mesmo tempo. E esse material te ajuda a evoluir muito! Eu mesmo evolui muito esse ano, vai ver que é por isso que os caras estão surfando tanto. E eu acho que foi isso que fez o John John ficar tão famoso e acabou rendendo esse novo contrato milionário. É claro que ele entrou no WCT, ganhou uma etapa, e ele é um fenômeno, mas muita coisa ele mostrou em vídeos. Não adianta você mandar um aéreo absurdo pra você mesmo, que é algo que geralmente acontece no freesurf, então a saída é se dedicar a produzir também.
Ainda são poucos aqui no Brasil com essa visão né?
Na verdade tem uma galera que tem boas ideias, mas o suporte que a gente tem nem se compara com o lá de fora. E não digo só das marcas, a valorização que os próprios atletas dão a isso também. Por exemplo, se um veículo surge com algum projeto fora do comum, ninguém abraça a ideia como os caras fazem lá fora. Um projeto como o What Youth por exemplo, quando se tem a chance de embarcar em uma empreitada, todo mundo vai junto! Talvez com o jeito que a coisa é feita no Brasil, os atletas também tenham se acomodado. Hoje a coisa parece estar mudando e eu acho que a tendência é melhorar, apesar de ser um processo lento.
O que te motiva a continuar produzindo esses projetos diferenciados, fazendo a coisa do jeito que você vem fazendo com o Blog, as edições de vídeos, mesmo com isso sendo extremamente trabalhoso?
Na verdade eu queria poder ter investimento pra criar as minhas ideias e fazer mais coisas, mas eu acho que o retorno que é mais gratificante é ter o feedback de um pessoal mais conceituado, tanto na mídia, quanto no conceito dos caras que entendem do assunto. Eu nunca faço a coisa pensando no cara que não entende. Eu recebi várias mensagens de editoras e produtoras que considero bastante me dando parabéns pelo filme, e ver que esse pessoal está valorizando é o que é mais gratificante. Eu acho que no Brasil dificilmente algum atleta hoje faz o seu próprio filme, com investimento próprio, ainda mais sendo um projeto ousado como este, então, ter esse reconhecimento é o que me motiva.
No entanto, depois do feedback positivo, o retorno para por aí e você provavelmente nem consegue cobrir seu investimento, não? Você consegue enxergar um futuro para esse tipo de projeto aqui no Brasil?
Tirando a questão de ser uma coisa feita com gosto, por amor ao que eu faço e pela valorização de mim mesmo como atleta e meu esporte, se depender do lado financeiro fica difícil. O Brasil ainda é muito fechado pra esse tipo de investimento. No caso, hoje nós não temos nem um circuito brasileiro e a tendência é passarmos as Olimpíadas de 2016 ainda sem a verba do governo destinada ao surf. Nos próximos anos, com a força que os atletas brasileiros estão ganhando no WCT, muita atenção estará voltada para o Brasil e haverá uma valorização maior da mídia online e produções próprias de atletas daqui. Eu acredito que as marcas finalmente entrarão nessa, porque quem não entrar estará se apagando de certa forma. Essa é minha expectativa, mas acredito que isso já esteja acontecendo de uma forma natural, porque lá fora é isso o que está em alta e nós aqui sempre demoramos um pouco para aderir às novas tendencias.
Você foi campeão do Brasil Surf Pro, em 2011, e naquele mesmo ano ele se extinguiu. Hoje, você sente falta de um circuito nacional?
Com certeza, o circuito brasileiro era a única ação de mídia que tinha os grandes canais de TV envolvidos, fora a etapa nacional do WCT, então ele era importante para nós. Agora, as mídias grandes não estão interessadas em cobrir os estaduais que estão acontecendo. Com certeza eu ainda estaria correndo um circuito nacional hoje.
Você valoriza mais esse lado da competição ou suas produções próprias durante o freesurf?
Eu sou bem dividido. Eu tenho esse lado competitivo muito forte, em tudo que eu faço, e adoro estar viajando para competir pelo mundial. Com certeza este é o meu foco principal, mas ao mesmo tempo, enquanto estou fora, eu adoro tirar fotos, fazer imagens, me ver surfando, ter algo pra editar e tal. Eu acho que acabei unindo o útil ao agradável, correndo o circuito mundial e aproveitando meus momentos de folga para aproveitar os lugares que eu estou. Cada ano que eu viajo eu abro mais a minha cabeça para estar competindo e produzindo ao mesmo tempo. Hoje em dia eu estou conseguindo conciliar bem isso, sem perder meu foco na competição.
Algumas imagens do filme se passam na perna européia do WS. Você competiu praticamente todas as etapas do mundial qualificatório, não?
Competi, eu só não fui para as Ilhas Canárias e Haleiwa, porque estava machucado. O filme tem algumas imagens da perna européia: Tem uma parte longa na Inglaterra com o Alê Chacon e eu, com altas imagens de visuais, castelos e etc, tem uma sessão em Portugal só com aéreos de backside, Espanha… a Europa rende muito! O filme ainda tem a participação de uma galera como o Miguel Pupo, Caio Ibelli, Filipe Toledo, Jessé Mendes…
A intenção então é realmente estar entre os Tops no WCT?
Com certeza, eu acho que esse ano de 2012 me mostrou que se eu focar, é possível. Eu superei barreiras e consegui me manter o ano inteiro entre os 38, bem perto de se classificar, então eu acho que se eu focar desde o início e acreditar naquilo que eu quero, consigo entrar no ano que vem.
O campeão do último ano do circuito brasileiro de surf (2011), Tomas Hermes, acaba de lançar Simplesmente Decorado, um filme produzido inteiramente por conta própria e com um conceito bastante diferenciado. Entre suas referências, estão alguns dos projetos mais audaciosos da cena de surf internacional, e entre seus projetos, algumas das ideias de maior personalidade no Brasil.
Qual é a ideia por trás do filme Simplesmente Decorado?
No início, eu não tinha a ideia de fazer o filme, mas foi tudo acontecendo por conta própria. A minha cabeça não para e eu estou sempre pensando em fazer algo, então o filme foi o resultado no final. Eu gosto de fazer muita coisa relacionada a design, mas como fiz tudo sozinho, muita coisa eu não sabia como fazer, mas pesquisando no YouTube eu fui fazendo a edição, assim como faço as atualizações no meu blog. Eu evolui muito durante o ano e pretendo continuar produzindo projetos novos dessa forma, que retratem as coisas que vejo, que vivo e me interesso de uma forma bem pessoal.
E como foi feito o filme?
Eu não fiz um roteiro, não viajei para algum lugar específico para filmar, foi tudo meio que acontecendo. O filme também não é muito auto-explicativo, não tem uma narrativa. Eu prefiro passar o que eu sinto nas imagens e fotografias. Depois de um ano de filmagem, foram mais três meses de edição e eu procurei referências em vídeos de moda e também nos filmes de surf de film makers como o Kai Neville e o Pablo Aguiar, sempre tentando colocar algo diferente no trabalho. Eu acho que essa nova geração de film makers tem uma mensagem muito legal pra passar. Eles estão criando uma cultura diferente no surf, que sai fora daquela coisa de “estar na praia de bermuda e chinelo”, Soul Surf, etc. Existe um coletivo e eles mesmos, os protagonistas, estão mostrando o que está acontecendo com o surf hoje.
Então a ideia é mesmo ganhar sua exposição por conta própria?
Sim, reunir uma galera e fazer um negócio mais próprio. Aqui no Brasil todo mundo só divulga competição. A gente não consegue criar ídolos porque ninguém tem a chance de conviver com um surfista no dia-a-dia e poder se espelhar nele, vê-lo como ídolo. Aqui é só competição, se você não corre campeonato, você tá fora. Enquanto lá fora, se formos ver como alguns desses caras tipo o Julian Wilson e Dane Reynolds surgiram, eles não dependeram tanto de vencer campeonatos, e hoje muito menos…
Sim, caras como o John John e o Dane Reynolds vem investindo pesados em câmeras, equipamentos próprios, film makers…
Eles estão muito ligados a isso. Você vê que eles saem de uma etapa e já fazem alguma viagem direto pra produzir um material, eles estão sempre com uma máquina na mão. Então não tem mais esse negócio de “você tá ali pra competir”, eu acho que você tem que se divertir ao mesmo tempo. E esse material te ajuda a evoluir muito! Eu mesmo evolui muito esse ano, vai ver que é por isso que os caras estão surfando tanto. E eu acho que foi isso que fez o John John ficar tão famoso e acabou rendendo esse novo contrato milionário. É claro que ele entrou no WCT, ganhou uma etapa, e ele é um fenômeno, mas muita coisa ele mostrou em vídeos. Não adianta você mandar um aéreo absurdo pra você mesmo, que é algo que geralmente acontece no freesurf, então a saída é se dedicar a produzir também.
Ainda são poucos aqui no Brasil com essa visão né?
Na verdade tem uma galera que tem boas ideias, mas o suporte que a gente tem nem se compara com o lá de fora. E não digo só das marcas, a valorização que os próprios atletas dão a isso também. Por exemplo, se um veículo surge com algum projeto fora do comum, ninguém abraça a ideia como os caras fazem lá fora. Um projeto como o What Youth por exemplo, quando se tem a chance de embarcar em uma empreitada, todo mundo vai junto! Talvez com o jeito que a coisa é feita no Brasil, os atletas também tenham se acomodado. Hoje a coisa parece estar mudando e eu acho que a tendência é melhorar, apesar de ser um processo lento.
O que te motiva a continuar produzindo esses projetos diferenciados, fazendo a coisa do jeito que você vem fazendo com o Blog, as edições de vídeos, mesmo com isso sendo extremamente trabalhoso?
Na verdade eu queria poder ter investimento pra criar as minhas ideias e fazer mais coisas, mas eu acho que o retorno que é mais gratificante é ter o feedback de um pessoal mais conceituado, tanto na mídia, quanto no conceito dos caras que entendem do assunto. Eu nunca faço a coisa pensando no cara que não entende. Eu recebi várias mensagens de editoras e produtoras que considero bastante me dando parabéns pelo filme, e ver que esse pessoal está valorizando é o que é mais gratificante. Eu acho que no Brasil dificilmente algum atleta hoje faz o seu próprio filme, com investimento próprio, ainda mais sendo um projeto ousado como este, então, ter esse reconhecimento é o que me motiva.
No entanto, depois do feedback positivo, o retorno para por aí e você provavelmente nem consegue cobrir seu investimento, não? Você consegue enxergar um futuro para esse tipo de projeto aqui no Brasil?
Tirando a questão de ser uma coisa feita com gosto, por amor ao que eu faço e pela valorização de mim mesmo como atleta e meu esporte, se depender do lado financeiro fica difícil. O Brasil ainda é muito fechado pra esse tipo de investimento. No caso, hoje nós não temos nem um circuito brasileiro e a tendência é passarmos as Olimpíadas de 2016 ainda sem a verba do governo destinada ao surf. Nos próximos anos, com a força que os atletas brasileiros estão ganhando no WCT, muita atenção estará voltada para o Brasil e haverá uma valorização maior da mídia online e produções próprias de atletas daqui. Eu acredito que as marcas finalmente entrarão nessa, porque quem não entrar estará se apagando de certa forma. Essa é minha expectativa, mas acredito que isso já esteja acontecendo de uma forma natural, porque lá fora é isso o que está em alta e nós aqui sempre demoramos um pouco para aderir às novas tendencias.
Você foi campeão do Brasil Surf Pro, em 2011, e naquele mesmo ano ele se extinguiu. Hoje, você sente falta de um circuito nacional?
Com certeza, o circuito brasileiro era a única ação de mídia que tinha os grandes canais de TV envolvidos, fora a etapa nacional do WCT, então ele era importante para nós. Agora, as mídias grandes não estão interessadas em cobrir os estaduais que estão acontecendo. Com certeza eu ainda estaria correndo um circuito nacional hoje.
Você valoriza mais esse lado da competição ou suas produções próprias durante o freesurf?
Eu sou bem dividido. Eu tenho esse lado competitivo muito forte, em tudo que eu faço, e adoro estar viajando para competir pelo mundial. Com certeza este é o meu foco principal, mas ao mesmo tempo, enquanto estou fora, eu adoro tirar fotos, fazer imagens, me ver surfando, ter algo pra editar e tal. Eu acho que acabei unindo o útil ao agradável, correndo o circuito mundial e aproveitando meus momentos de folga para aproveitar os lugares que eu estou. Cada ano que eu viajo eu abro mais a minha cabeça para estar competindo e produzindo ao mesmo tempo. Hoje em dia eu estou conseguindo conciliar bem isso, sem perder meu foco na competição.
Algumas imagens do filme se passam na perna européia do WS. Você competiu praticamente todas as etapas do mundial qualificatório, não?
Competi, eu só não fui para as Ilhas Canárias e Haleiwa, porque estava machucado. O filme tem algumas imagens da perna européia: Tem uma parte longa na Inglaterra com o Alê Chacon e eu, com altas imagens de visuais, castelos e etc, tem uma sessão em Portugal só com aéreos de backside, Espanha… a Europa rende muito! O filme ainda tem a participação de uma galera como o Miguel Pupo, Caio Ibelli, Filipe Toledo, Jessé Mendes…
A intenção então é realmente estar entre os Tops no WCT?
Com certeza, eu acho que esse ano de 2012 me mostrou que se eu focar, é possível. Eu superei barreiras e consegui me manter o ano inteiro entre os 38, bem perto de se classificar, então eu acho que se eu focar desde o início e acreditar naquilo que eu quero, consigo entrar no ano que vem.
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