Dia Final de Pipe Masters

O terceiro e último dia de Billabong Pipe Masters In Memory of Andy Irons amanheceu nublado e mexido. Kelly Slater se antecipou para contactar o diretor de prova, Randy Rarick, pedindo para que o campeonato fosse adiado. Segundo ele as condições deixavam a desejar e já havia a previsão de outro swell em uma semana. Randy negou o pedido e o resultado foi mais um dia de Pipeline clássico para fechar com chave de ouro este apoteótico Pipe Masters.


Logo na primeira bateria do dia, dando início às quartas de final, Joel Parkinson enfrentou Jamie O’ Brien apostando em Backdoor. Com o mar estranho e o vento dificultando mais ainda, Jamie só conseguiu achar duas ondas, na casa dos 4 pontos, e foi superado por Parko com dois bons tubos para a direita.

A bateria seguinte já começou com uma significância enorme, pelo fato de ser disputada entre Kelly Slater, com um reinado de 20 anos no esporte, e John John Florence, o local de 19 anos visto como promessa para o trono nas próximas décadas.

Sendo sediada na onda reconhecida mundialmente como o derradeiro campo de provas do surf, poderíamos estar testemunhando o exato momento da troca da guarda.

Com Slater mostrando dificuldade em controlar sua pequena 5’6, e John John dando uma aula de posicionamento e conhecimento de Pipe, este era de fato o cenário que tínhamos em andamento. O local havaiano garantiu seus pontos logo no início da bateria com um tubaço que encontrou e que também serviu para dar a dica de que as condições do mar estavam melhorando. Já no final da bateria, para selar sua performance, John John dropou por trás do pico e passou uma placa enorme em direção a Backdoor, sendo expelido junto à uma forte baforada, para inflamar a torcida na areia e arrancar um 9.70 dos juízes. Agora, com só 5 minutos restantes no cronômetro e Kelly em combinação, as cornetas já apontavam para os céus e a cerimônia da troca da guarda já esperava, pronta para ser formalizada.

Porém, se tratando de Kelly Slater, aprendemos a nunca duvidar do que pode estar por vir, e neste caso, o que veio foi um troco na mesma moeda, um tubo para Backdoor com uma saída ainda mais dramática, por entre a espuma, e também com um 9.70 vindo da cabine de julgamento. Muito bem, agora com 3 minutos restantes e John John com a prioridade, não haveria muito o que fazer por parte de Kelly, a não ser que John John utilizasse sua prioridade em vão, o deixando sozinho no line up com uma série vindo lá fora. Parece até que os acontecimentos desta bateria histórica foram escritos em um roteiro e atuado de forma brilhante por estes dois competidores. Com exatamente um minuto restante na bateria, Kelly, sozinho no line up e com uma prioridade que ganhou de bandeja, pega um lindo tubo pra Backdoor, tirando um 7.83 e superando John John por menos de 1 ponto – mesmo depois de escorregar com uma certa deselegancia ao sair da onda após o tubo. Deve ter sido por conta do tamanho de sua prancha, uma 5’6. Peraí! Uma 5’6? Ok, desculpe John John, a cerimônia está oficialmente cancelada e Slater avança para as semis.

Na bateria de menores pontos do dia, o destaque local Evan Valiere não se encontrou e foi superado pelo taitiano Michel Bourez. Com Pipeline ainda melhorando mas com um intervalo de tempo grande entre as séries, Gabriel Medina enfrentou o australiano Kieren Perrow e a bateria teve início logo com duas ondas excelentes, um 9 para K.P e um 8.63 para Medina em uma onda com 2 tubos seguidos muito bem surfados. No entando, as ondas não apareceram mais, com a exceção de um belo tubo em Backdoor surfado por Kieren Perrow, que após a baforada, manteve sua linha na onda que armava para fechar por completo, e ao tentar sair, amorteceu uma placa do lip com sua cabeça e foi abaixo.

Certamente os juízes entenderam que K.P já havia completado o tubo e a queda aconteceu devido a uma tentativa de conseguir outro tubo, porém há controvérsias.

Vendo o replay da onda em camera lenta, percebe-se que Kieren não conseguiria sair logo depois da baforada, pois grande parte do lip desabou logo ao seu lado, portanto, ele foi obrigado a manter sua linha por um breve momento a mais, consequentemente sendo derrubado pelo lip. Esta análise provavelmente reduziria consideravelmente a nota 8.23 de K.P, mas também não evitaria a derrota de Gabriel Medina, que não conseguiu achar mais nenhuma onda durante a bateria. Mesmo assim, para o primeiro Pipe Masters de um “especialista em aéreos nas marolas”, a chegada às quartas de final de um evento nestas condições por lá, prova que algo de muito especial ainda está por vir para este talento de apenas 17 anos. É só dar uma olhada nos naipe dos outros competidores que o acompanharam neste último dia de campeonato.

Na primeira semi entre Joel Parkinson e Kelly Slater, vimos um “lá e cá” de excelentes tubos, mas Parko, se entocando ao máximo e achando saídas mirabolantes em duas ondas, acabou superando Kelly por 0.40.

Kieren Perrow emplacou uma nota 10 – a terceira do evento, sendo as primeiras duas de John John – com uma excelente onda surfada em Backdoor, achando a saída de um tubo muito deep. Além disto, sua primeira onda, nota 2, já foi mais que suficiente para sua soma final, superando o total de 4 pontos de Michel Bourez e garantindo seu lugar na final.

Na final entre os aussie mates Parko e K.P, parece que Parko – talvez com um excesso de confiança pelas saídas que encontrou naqueles tubos surfados na bateria contra Slater – se posicionou de forma errada e não conseguiu aproveitar suas melhores oportunidades. Já Kieren Perrow, que neste mesmo evento se salvou do corte da elite para 2012, garantiu duas boas notas surfando um tubo para cada lado e levou sua primeira vitória em um evento do WT, em quase 10 anos na elite. O aussie guerreou para chegar lá e, mesmo com cortes e fita adesiva servindo de curativo por todo o corpo, estava no topo do mundo naquele momento. Merecido! Outro título merecido foi a conquista da Tríplice Coroa Havaiana pelo local hero John John Florence.

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